domingo, 7 de janeiro de 2018

Iniciado, lembrado e retirado

Munida novamente de caneca com leite e Corn Flakes. Uma verdadeira salvação noturna para se matar a fome rápido e sem fazer alarde. A baby não me interrompeu dessa vez. Dorme tranquilamente. Ufa! Mas não foi disso que vim falar. Vim deixar registrado aqui algo que me afetou muito anos atrás e que certamente afetaria várias pessoas hoje se o propósito fosse colocado em prática. Vim deixar registrado como um ato impensado, impulsivo, inconsequente, pode destruir vidas, sonhos... pode destruir uma família.

Anos atrás, durante uma viagem de trabalho, um amigo usou uma crise existencial minha para tirar algum proveito. A vulnerabilidade humana é sedutora para alguns. Eu era uma garota que adorava desafiar as pessoas e ver até onde elas iam. Bêbada, mais ainda. Desafiei, mas não paguei pra ver!  O que eu tô fazendo? Ele era comprometido à muito tempo com uma também amiga minha. Não queria me comprometer com nada, pois não temos controle nos sentimentos das pessoas e nem nos nossos. Claro que seria uma bobagem, pegação apenas, mas vai saber, né? Assunto encerrado, esquecido, enterrado.

Anos mais tarde, em outra viagem de trabalho, durante um show, esse mesmo amigo me toca de uma forma estranha. Opa! Meu sexto sentido sente cheiro de confusão. Ele comenta sobre o ocorrido de anos atrás. – Pra que esse assunto agora? – E se eu havia comentado com alguém. – Sim! Contei pro meu namorado! – Fiquei receosa com o cerco, pois poderia despertar curiosidade dos demais que estavam conosco. – Não! Você é casado com minha amiga e vocês têm uma bebê recém nascida.  Pense na sua filha. Converse com sua mulher e resolva-se com ela e não comigo! E outra, estou muito bem no meu relacionamento, não tenho por que me aventurar! – E a noite seguiu com insistências, torpedos e batidas na porta do quarto do hotel. Salva pelo cansaço. Assunto encerrado, esquecido, enterrado. Será?

Anos mais tarde, durante uma viagem de trabalho também, voltando de um bar, esse amigo novamente sinaliza com um beliscão que vai ter trêta. Respiro fundo e me preparo pra batalha que viria a seguir. O que ele quer agora, meu Deus? Para o meu azar, a porta do meu quarto na casa onde havíamos alugado para passar a temporada, era o único sem chave. Ele adentrou, mesmo eu protestando veemente o ato de violação da minha intimidade, mas nada pude fazer. Dali, seguiu-se horas de tentativas para que eu dormisse com ele. Não tenho como escrever tudo que foi dito e insinuado, é um tanto grosseiro até. Ameacei gritar, bater, sair dali, tudo! Mas ele estava focado em conseguir o que queria, me enchendo de satisfações, como se eu tivesse direito a elas... Enfim. Eu só pensava em três coisas: sair daquela situação desconfortante, na mulher dele que, além de ser minha amiga, estava com uma bebê de meses e vivendo um momento de extrema vulnerabilidade e no meu namorado, no qual havia jurado fidelidade e que certamente iria ficar furioso quando soubesse. Até concordei com os argumentos que ele expôs para tal ato, a famosa pulada de cerca. Mas não seria comigo que colocaria em prática. Não me cabia tamanha responsabilidade. E se algo saísse do controle? Quando se mexe com sentimentos, momentos delicados vividos por pessoas, tudo pode acontecer. Ele estava extremamente desconcertado com a chegada da filha. A maioria dos homens não digerem bem esse momento onde a mulher é protagonista. Natural sentir-se sozinho, confuso, com desejos não supridos e medos. Mas ele deveria se resolver com a mulher dele, e não comigo. E se ele se apaixona por mim? E se eu por ele? A dimensão que um ato inconsequente poderia tomar? Eu ia ser cúmplice da destruição de uma família que estava nascendo! Eu ia deixar marcas profundas na minha amiga pela dupla traição e por consequente na filha deles que iria crescer em um lar sem pai, talvez ausente! Muito sério tudo isso. Argumentei e expus de todas as formas o que tudo isso poderia causas a todos nós. Eu iria perder dois amigos e ia mentir pra pessoa mais importante da minha vida onde só prometi verdades. Estava firme no meu relacionamento e pronta pra formar uma família. Jamais desejaria que fizessem isso comigo. Mas ele estava irredutível. – Ok, eu durmo com você, faço tudo que você quiser, mas farei com nojo e assim que  terminarmos, vou sair por aquela porta e contar pra todo mundo o que a gente fez, principalmente pra sua mulher e pro meu namorado, que já queria quebrar a tua cara desde  o episódio passado. E nunca mais vou dirigir uma palavra a você, por me desrespeitar dessa forma! Tu vai morrer pra mim. Quer se divertir, procure uma prostituta, pois esse é o trabalho dela, de dar alento para homens fracos que nem você! Devias estar ao lado da sua mulher, que certamente está precisando de você nesse momento. É pra ela que você deve satisfações, não pra mim! – Enfim, consegui fazê-lo entender e ele saiu completamente envergonhado por ter me proposto algo tão perigoso. Me agradeceu horas depois e disse que o assunto estava encerrado, esquecido e enterrado. Ufa! 

A gente passa por cada uma nessa vida... Até parece filme! Tudo está no limiar de dar certo ou errado. Uma atitude pode mudar tudo. Uma palavra pode mudar tudo. Um sim, um não. É ter sensibilidade com o mundo, com o que está em volta. Mas nem todos têm essa maturidade. Só o tempo faz com que a gente fique melhor, ou pior, claro! Se depois disso estou melhor ou pior, não sei. Sei que hoje, estou diferente, pois passei pela mesma situação que anos atrás lutei para não ser a causa de algo tão triste. Sabe o desejo de nunca passar por isso? Pois é, passei. Hoje, minha filha cresce em um lar sem pai e ausente.



  

















  



Um comentário:

Memórias Vazias disse...

Que chato passar por tudo isso, mas você fez o certo no final das contas, tem muito homens babacas que não pensam na suas atitudes, não pensam nas consequências, apenas no momento, ja passei por algo assim e vejo que evitar qualquer problema foi minha melhor escolha.