quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Café com leite


Ele chegou. Ela ainda dormia o seu cochilo habitual. Ele, vindo da rua, esbaforido, suado, aproveitou esse hiato de tempo e comeu algo. Uma caneca de café com leite quente e uma rosca de goma. Foi o tempo dela acordar. Ele foi ao quarto para vê-la despertar. Silêncio. Ficaram se encarando por uns minutos. Dois pares de olhos negros, de longos cílios, se encontrando e se conectando. Ela espreguiçou, tirando um pouco da preguiça que fica após um cochilo. Esboçou um sorriso tímido para ele, que fazia graça para quebrar o gelo. Agora sentada, ela aos poucos ia se entregando às graças que ele fazia. Uma lágrima de emoção e saudade escorria dos olhos dele. Ela inclinava o minúsculo corpinho em direção a ele, sorrindo e por vezes gargalhando, mostrando interesse naquele ser barbado, assanhado e cheio de amor por ela. Pai e filha, juntos, um defronte ao outro, se curtinho, se reconhecendo nos traços que os une e que a vida teima em afastar. Ele ria e chorava ao mesmo tempo, incrédulo com tamanha entrega, aceitação e beleza. Sim, ela estava linda, radiante e interagia com ele como nunca em seus poucos meses de idade. Conversaram como se fossem velhos amigos. Talvez ele tenha finalmente entendido o que está perdendo ficando longe e da importância dela em sua vida. E ele rindo e chorando ao mesmo tempo.






Nenhum comentário: